quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Filhos

- Oi, quanto tempo!
- Oi. Pois é, não? Tudo bom?
- Ah, tudo ótimo, o maridão conseguiu emprego e agora tenho mais tempo para cuidar de mim. sabe como é, né?
- Ah, que ótimo. O salão também vai muito bem. Você não imagina o quanto o número de clientes cresceu, menina!
- É, eu ouvi falar. E o filho, na mesma?
- Ele está indo bem sim. Ele ficou em uma matéria, mas a gente já resolveu.
- Ele fez dezesseis anos um dia desses, não foi?
- Foi sim. Ele chamou alguns amigos para ir lá em casa.
- Ah, sim. Parece que foi divertido.
- E a Ângela, como anda?
- Ela conseguiu notas ótimas, você nem imagina! Ela inclusive foi chamada para fazer um curso toda sexta-feira á noite. Estou super feliz por ela.
- Você acredita que o Pedro também está fazendo um curso ás sextas? É para ver se consegue melhorar a nota. Ele está se esforçando muito, o menino.
- Tomara que ele consiga, sabe. Ângela nunca foi disso, mas se fosse...
- Ele prometeu que vai melhorar.
- E você confia nele assim?
- Nem tanto. Confio é na nova namorada dele. Uma ótima garota, que por sinal, está ajudando ele com os estudos.
- Ah, a minha filha não pode nem pensar em namorar. Ainda é muito nova. Quinze aninhos só.
- Ah, coitada. Deixa a garota. Meu filho disse que a sogra não aprova o namoro deles. Ele não gosta não, nem ela.
- Mesmo assim, é inadmissível. Ela tem que se concentrar nos estudos e em todo o resto antes de pensar em namorar.
- Bem, agora eu tenho que ir. Vou dar carona para o Pedro e a namorada dele até o cinema. Depois a gente se fala.
- Ah, tudo bem. Vou dar uma limpadinha na cozinha. A Ângela saiu com uma amiga e vai voltar mais tarde.
- Até mais.
- Até.

E demorou mais um bom tempo para que se dessem conta.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A vida de um homem chamado Tom

Ele era um cara alto, consideravelmente taciturno e bastante amistoso. Ele acordava por volta das seis da manhã e chegava ao trabalho ás sete. Almoçava por volta de uma hora e chegava em casa ás seis e meia. Costumava jantar macarrão de microondas e ver televisão o resto da noite. Quando nasceu, sua mãe resolveu que seu nome seria Tom.
Naquele dia prolixo em especial Tom resolveu checar sua correspondência antes de entrar em casa. Aliás, ele nunca recebia nada além de contas. E foi o simples abrir da caixa de correio que mudou o resto da sua noite e, quem dirá, da sua vida. A portinhola abriu e balançou perigosamente sobre a única dobradiça que ainda restava, enquanto Tom recolhia as contas de luz e água. Depois de ter o correio recolhido, bateu a portinhola com um pouco mais de força do que deveria, e um baque fino anunciou que a última dobradiça também já era.
Por alguns milésimos de segundos o apetrecho de metal caiu em direção ao pé de Tom, e acertou seu dedão com uma força nauseante. O berro, como podem imaginar, foi plenamente audível. Ele xingou toda a família ainda viva da porta da caixa de correios e mancou para dentro de casa. Mórbido ao estremo, olhou para a unha sangrenta no seu pé e achou prudente procurar um hospital.
O caminho foi longo e dolorido. Sempre era. Tom mancou até a recepcionista e ainda conseguiu energias para discutir com ela. “Mas eu estou para perder o dedo!”. E depois de algum tempo ele entrou na sala de emergências. Soltando ganidos exagerados de dor, ele foi examinado, medicado e enfaixado. Estava sentado numa das salas brancas do hospital e ficou encarando o dedo recoberto de branco. Parecia ter duplicado de tamanho.
Passou quase quatro horas no hospital até ser liberado sob o pretexto de voltar em duas semanas. Posso dizer que a vida não ficou mais generosa para com Tom. Ele ia trabalhar no mesmo horário, almoçava no mesmo horário e saía no mesmo horário. Chegava em casa e jantava a mesma comida, depois de dar uma olhada para a caixa de correio sem porta, e assistia os mesmos programas.
Duas semanas se passaram e ele voltou para o hospital. Demorou na sala de espera, aguardou no corredor e esperou na sala do médico. O doutor passou uns dez minutos fora da sala antes de entrar. A porta atrás de Tom se abriu, mas a voz que ele escutou não foi a de um médico.
- E então, como tem sido?
A mulher examinou seu dedo e mandou removerem as ataduras. Indicou um novo medicamento e o despachou. Tom não. Ele virou-se pela última vez antes de sair da sala dela:
- Você está livre amanhã á noite?
Foi a primeira remada que ele deu contra a rotina. Eles se encontraram, namoraram por alguns meses, mas ao contrário do que estão pensando, eles não se casaram. Cada um seguiu seu caminho, mas Tom não deixou mais que o caminho o levasse. Desde então ele tem um novo emprego, acorda mais tarde, chega em casa mais cedo, janta coisas diferentes á cada dia e marca programas para a noite. Agora Tom é um homem livre.

Até consertou a porta da caixa de correios.

sábado, 15 de setembro de 2007

Comentário (in)oportuno

Engraçado como algumas coisas soam. Como quando, por exemplo, estamos conversando sobre um assunto muito particular com alguém e a sala toda se cala no exato momento em que você revela seu maior segredo ou diz a coisa mais ridícula do mundo. Ou então numa mesa cheia de gente, quando coincidentemente todos se calam no momento em que você comenta algo como ‘essa está gostosa’ com a latinha de cerveja na mão. Ou apenas a frase errada na hora errada, que seja.
Pois é, aconteceu. Felizmente não comigo, nem com você; mas sim com a Sara*. Na verdade é uma história bem engraçada, se você for pensar melhor.
Estávamos no rodízio de pizza jogando conversa fora e comendo até cair para trás. Minha irmã estava rindo de alguma coisa jocosa e eu estava falando da escola com a Mari. A Sara estava esperando passar a pizza de mussarela – neste ponto da história eu acho importante lembrar que ela só come pizza de mussarela – e ela falou que o Pedro* tinha tirado a maior nota da sala, ou algo assim.
Foi o ponto de partida. A Mari disse que o Pedro era um cara inteligente, por que ela tinha estudado desenho geométrico com ele e coisa e tal, e a Sara concordou. Ah, é de total importância sublinhar que a Sara gosta do Pedro e ele sabe disto, mas ela não sabe que ele sabe. E, sem eu nem perceber, a conversa chegou até as características físicas do garoto. É neste momento que a Pizza de mussarela chega, lembrem-se.
- Mas é simplesmente impossível existir uma pessoa inteligente, bonita e de olhos azuis. Se não garotos como nós jamais teríamos chance alguma. – foi o que eu disse.
- Ah! Mas o Pedro é tudo isto e eu não escolhi ele. – argumentou Mari.
- Ele nem é tão inteligente assim, vá... – eu.
- Poxa, ele é inteligente sim. E bonito também.
Neste momento o comentário inoportuno saiu da boca da Sara. Livre como um pássaro e mortal como veneno. Ele percorreu nossas cabeças e sombreou a mesa. Simplesmente estabilizou-se no ar, parado, imóvel, para que todos escutassem cada palavra com o máximo de surpresa possível. Ela soprou a pizza e exclamou com a voz mais arrastadamente melosa que eu já escutei:
- Uh! Tá quente!
Eu e a Mari simplesmente nos calamos e olhamos para ela, estupefatos, antes de descobrirmos que ela falava da pizza. Isto simplesmente desencadeou o riso mais gostoso da semana. E sim, eu ri muito.
- Pois é, tá quente aqui né?
Sempre que a vejo com o Pedro faço questão de soltar um ‘Uh! Tá quente!’ para ela. Ele não entende, mas ela costuma soltar um sorrisinho embaraçado.

Foi a frase certa na hora errada ou a hora certa para a frase errada?
Eu não sei, mas pretendo fazer escárnio disto até o fim do ano, no mínimo.
Quem sabe um novo bordão?

* Os nomes são fictícios. A identidade dos personagens foi resguardada.

domingo, 9 de setembro de 2007

Foi 7 de Setembro

Posso dizer, com absoluta certeza, que o meu sete de Setembro foi o mais diferente de todos. Talvez não o mais diferente de todos literalmente falando, mas um deles. Principalmente por que, ao invés de assistir ao desfile, eu desfilei. Na verdade este foi meu primeiro ano; pois no ano passado eu estava com preguiça e no retrasado eu estava mórbido demais para alguma coisa deste tipo.
Enfim, eu desfilei no sete de Setembro deste ano pelo meu amado Colégio Militar, e carregue-se esta frase de ironia. E mais exclusivo ainda, eu desfilei pelo Grêmio de Artilharia do Cm e, portanto, desfilei de camuflado.
Posso dizer que como primeira experiência foi ótimo. Começou quando eu acordei ás quatro horas da manhã, me arrumei e chaguei no colégio em meia hora, para entrar em forma e tudo o mais. A primeira coisa que eu fiz, depois de descobrir em qual dos quinze ônibus eu ia, foi tentar parecer mais apresentável.
E depois de quase meia hora lavando o rosto a ajeitando toda a farda, as coisas começaram a ficar divertidas. Foi ‘zoeira’ no ônibus (o ônibus doze, se querem saber), e depois mais brincadeiras ao lado do sambódromo, onde a gente ia desfilar. :)
Aí a Infantaria começou a se camuflar, e ver a kathleen de cara pintada foi impagável. Além do mais, vindo da série ‘milagres do sete de setembro’, o Grêmio de Artilharia entrou em forma em menos de um minuto, mesmo após ter o café da manhã brutalmente interrompido pela chegada do governador.
“Dois minutos para o Grêmio de Artilharia entrar em forma; alinhado e coberto!”, foi o que o Tc Nerry disse. Depois disso só vi umas trinta pessoas correndo que nem loucos pra rua. Tempo recorde, afinal.
Após os surpreendentes acontecimentos a gente foi marchando para a grande passagem, atrás do grêmio de Infantaria e depois dos cubanos/da demonstração de helicóptero. Foram os cinco minutos mais emocionantes do dia. E juro que não houve nenhum motejo audível.
Enfim, depois cada um se apossou de uma latinha de coca-cola e voltou para o colégio.
Fora a brincadeira infantil que o ônibus da frente arranjou, tudo correu bem. Pois o que vale na experiência são as lembranças, e este será um dia que estará na memória por um longo período.

E o resto do dia?
O mais inútil possível: passei a tarde e a noite no computador.

Ps. Oh, como estou sem inspiração pra escrever, mas me esforçei ao máximo para atualizar o blog. Por isto resultado foi tão desanimador. Pardón-me.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O poder das cordas;


Eu já fiz curso de pintura, aulas de natação, judô e outras coisas nesta mesma linha. Normalmente eu cansava aos poucos, assim como aconteceu com o curso de pintura, com a natação – neste caso ainda foi menos pior, pois nadei durante mais de seis anos - e com o judô. Minha mãe costuma ficar ultrajada, pois assim que consigo ‘pegar o jeito da coisa’ eu canso.
O problema neste ultraje é que agora eu quero aprender a tocar violão. Minha mãe se recusa à desembolsar um centavo sequer para compactuar com isso, pois sabe que em um ano ou menos eu já estarei cansado das cordas. Nada neste mundo a convencerá do contrário. Ela disse que não me proíbe de aprender, desde que seja com meu tempo e meu dinheiro. Então quem fica ultrajado sou eu.
Ela não deveria me apoiar?
E se ela estiver me tomando a chance de vir a ser um grande violinista?
E então eu percebo que o único e exclusivo interessado em aprender violão sou eu. Sou eu que quero parecer mais arguto, sou eu que quero usar o charme do violão para ser mais galanteador, sou eu quer quero ocupar meu tempo com algo mais útil do que o normal.
Não ela.
Agora, e se eu conseguir o dinheiro para o violão e as aulas e depois cansar? Não seria um dinheiro jogado fora? Pois é. Acabo de perceber o quão enfadonho isto pode ser. Só que isto não resolve quase nada. Eu devo desistir das aulas pois sei que vou cansar? Ou devo continuar correndo atrás dos meus “sonhos”?
Por um lado eu penso no escárnio que eu vou ter que agüentar como novo aluno num cursinho qualquer, sendo que não sei tocar absolutamente nada. Nem uma nota sequer. Por outro lado, quando eu aprender á tocar alguma melodia gratificante, vou avançar á um novo patamar de elegância. Não era o sonho de toda garota um garoto que tocasse violão? E as serenatas então?
Então descubro que simplesmente não sei nada sobre garotas, em geral. Fora meu divino dom de romantismo, não sei mais quase nada. A Marianna que o diga. Um violão resolveria isto? Será mesmo que o violão é a solução de todos os meus problemas? E volto á mesma dúvida catalisadora de sempre.
E então eu lembro que eu já tenho namorada e não preciso do apoio do violão para conquistá-la. Eu tenho como comprar um violão e algumas aulas por internet. Eu posso aprender á tocar o instrumento e mostrar para minha mãe que eu sou bom nisto. Ou não.
Prefiro continuar no despeito.
E quem me dera que algum sinal auspicioso me dissesse o que fazer.

Afinal, eu só quero aprender á tocar violão
.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Mudanças;

Aproveitando o que sobrar do feriado de 7 de Setembro, eu vou dar uma inovada aqui no blog.
Primeiro, vou mudar o layout, sem sair do preto.
Segundo, meu blog vai virar um blog de crônicas.

Porquê?

Por quê isso vai diferenciar meu blog dos demais, por quê eu gosto de escrever e ler crônicas e por quê isso vai chamar a atenção;
Além do mais, o blog é meu e quem decide sou eu (y)

Fora isto, algumas pessoas reclamaram que não conseguiram postar comentários no meu blog.
Conversei um pouquinho com elas e o problema é que elas não tem conta blogger.
Então não custa nada esplicar:
Quem não tem conta Google nem Blogger, seleciona a opção 'outros', debaixo da sua mensagem.
Aí seu coment vai aparecer normalmente, mas sem seu perfil (porquê você não tem, óbviamente).

Pois acho que por hoje é só.
Amanhã eu já pretendo postar uma crônica qualquer.

E valeu pelos coments, pessoas;

domingo, 2 de setembro de 2007

Beach;

Este fim de ano eu vou para a praia.
Aliás, para muitas praias.
.
Mas não vou mais voltar para cá depois.
Me sinto tão mal quando penso nisso ¬
amigos, lugares, shoppings...
...tudo, sabe?
.
Algum dia eu vou pegar um avião e vou ver Manaus pela última vez.
Que droga!