domingo, 18 de maio de 2008

Devaneios sobre o romance de meus avós.

Algum de vocês já parou para pensar na história da sua família? Quero dizer, em tudo o que seus pais já passaram e tudo que seu sangue viveu até chegar até você? Volta e meia me flagro fazendo isso. E dia desses estava pensando nos meus avós. Eu já sabia que a família da minha avó era meio estranha, principalmente pelo fato de que as duas irmãs da minha avó haviam sido criadas separadas. Já sobre meu avô não sei muito. Mas algo me leva a pensar que eles se conheceram na praia. Talvez um deles já tenha me dito, não sei.
Mas então estava ali a minha avó, pegando sol nas areias de Ipanema com os cabelos soltos e óculos de sol no rosto. Então passa o meu avô, naquele padrão de malhado-magricela que se vê nas fotos da época. Época, aliás, dos anos sessenta. Então meu avô chega para minha avó, que estava falando com uma amiga e diz:
“Carambolas, moça. Como seu corpinho fica supimpa nesse seu maiô listrado!”
Minha avó ri, cochicha com a amiga, põe os óculos na testa e responde:
“Poxa, moço. Você também fica da hora com essa sunga vermelha.”
Daí foi amor na hora. Eles marcaram de se encontrar na sorveteria do seu Manoel, naquela tarde mesmo. E depois de novo. E uma vez na praça. E lá pelo sétimo encontro resolveram namorar. Namoro escondido, já que a minha avó era prometida de se casar com um homem rico, filho de um amigo da família. Meu avô propôs casamento, mas ela não pôde aceitar. Resolveram fugir da cidade para fazerem os votos às escondidas.
Então numa noite de lua cheia, lá foram eles. Meu avô pegou seu fusca turbinado e seguiram a estrada. Minha vó exclamava coisas como:
“Oh, meu amor! Você é tão corajoso! Passaremos o resto da vida juntos, entre mil beijos selados e dias vividos.”
E meu avô ia só dirigindo e sorrindo. Numa cidade nova, sem emprego nem meio de sustento, meu avô entrou para a aeronáutica, a fim de ganhar dinheiro. Minha avó, muito orgulhosa, cuidava da casa e preparava o terreno para seus rebentos. Rebentos estes que nasceram no pé dos anos setenta. Daí minha avó virou para o meu avô:
“E aí, bicho? To mó gravidona, ae. Quê que nós vamos fazer?” E jogou os cabelos longos e hippies para trás, segurando a barriga.
“Pô, mulher. Dá o nome dele de Alexandre e vamos criar o moleque.”
Então nasceu meu pai, e minha avó ganhou o emprego de mãe. Lambia o cabelo do filho pro lado e mandava ele pra escola. Cozinhava, passava, limpava e no fim ainda teve tempo pra mais uma cria. Agora com a alma materna já completamente instalada em seu ser, ela contou pro meu avô:
“Marido meu que tanto amo, vem aí mais um exemplo de nosso eterno amor. Que faremos, afinal?” Dizia juntando os carrinhos do meu pai.
“Ponha o nome dele de Ricardo, querida. E vamos logo com esse almoço que eu estou com uma fome do cão” respondeu.
Então nasceu meu tio. Meu pai cresceu, namorou, se formou, se casou, me teve e a vida continua por aí. Meus avós, afinal, estão juntos até hoje; por mais que eu saiba que não foi bem assim que tudo aconteceu.

domingo, 11 de maio de 2008

Homenagem ao dia das mães

Ela escutou o telefone tocar enquanto fazia o jantar. tampou a panela e saiu da cozinha. Atravessou o corredor, driblou a mesinha ainda sem lugar, desviou da última caixa de mudança e entrou no quarto da filha mais velha. A garota ouvia música e berrava ao som de Simple Plan.
- Filha! Filha! Vá se arrumar! Levo você para a casa da Charlla em cinco minutos.
- O que? Disse alguma coisa, mãe?
- Vá se arrumar!
Fechou a porta do quarto, deu a volta no corredor. O telefone ainda tocava. Passou pelo quarto da filha mais nova que pichava as paredes. Entrou no quarto, tomou o lápis de cera da mão da garota que começou a chorar. Ignorou o berrô e correu até a sala. Atendeu o telefone. Era o marido.
- Oi Querida. Vou me atrasar um pouco. Se importa de levar Carlinhos para o curso de Caratê?
Na verdade se importava, mas preferiu evitar confusão. Desligou o telefone e correu para o quarto do filho. No meio do corredor foi interrompida por Laura, segurando Mariana no colo.
- Mãe! A Laura está chorando! Não consigo ouvir minha música!
- Me dê ela aqui. Você devia estar se arrumando!
Laura se afastou, entrou no quarto e fechou a porta. Mariana ainda berrava em seu colo. Entrou no seu quarto a procura da chupeta. A chupeta não estava por lá. Entrou na sala, revirou as almofadas, saiu e desligou a luz. Carlinhos parou na sua frente.
- Mãe, papai ainda não chegou.
- Não se preocupe hoje eu levo você. Mas antes, me ajude a achar a chupeta de Mariana.
- Mas eu tenho que me arrumar.
- Então vá logo! LAURA!
A cabeça da filha apareceu de trás da porta do seu quarto. Vestida em seu pijama e com o fone do mp3 nos ouvidos.
- Filha, me ajude a achar a chupeta de Mariana.
- Mas eu vou pra casa da Charlla!
- Você ainda nem se trocou!
- Vou me trocar, mãe!
Fechou a porta com força. O telefone tocou novamente. Deixou Mariana no sofá, correu para a cozinha, desligou o fogão, atendeu o telefone. Era a vizinha.
- Faça esta menina parar! Está chorando á tempos!
- Desculpe o incômodo, vou dar um jeito.
Desligou o telefone, bateu na porta de Carlinhos. A porta se abriu.
- Está pronto, querido?
- Estou quase, mãe...
A mãe entrou no quarto, fechou a janela, separou a roupa sobre a cama, mas não antes de achar a chupeta sobre a escrivaninha. Pôs a chupeta na boca da filha, saiu do quarto, apressou Carlinhos e bateu na porta de Laura.
- Se você não estiver pronta não te levo mais!
- Estou pronta mãe.
A filha foi para a sala. A mãe pegou a sacola de Mariana e pediu para que Laura segurasse. Laura reclamou e deixou a irmã na mesa da cozinha. Carlinhos saiu do quarto á procura das meias. Ela correu para seu quarto, abriu o armário, pegou uma meia do marido e entregou-a ao filho. Ele resmungou e vestiu a meia.
- Mãe... Que cheiro é esse no sofá? - perguntou Laura, lá da sala.
Ela foi até a sala, olhou para a enorme poça de xixi sobre o estofado, foi á despensa, pegou um pano, entregou-o á Laura, correu para a cozinha, pegou Mariana brincando com uma faca. O tele fone tocou mais uma vez. Mariana recomeçou a chorar. A campainha tocou.
- Mãe. Minha aula começa em três minutos!
- Eu não vou limpar isso! - Gritou Laura.
A vizinha bateu a vassoura no teto – o chão do apartamento, no caso. A campainha tocou mais uma vez. Sentiu um cheiro de queimado.
- Laura, você ligou o fogão?
- Estou com fome mãe.
- AHHHHHHHHHHH!